Os estaleiros amazonenses estão importando operários de chão de fábrica. As buscas principais são por soldadores e montadores navais, para atender à crescente encomenda de embarcações de aço.
A oferta de postos de trabalho no setor é favorecida pelo aquecimento do transporte de óleos e grãos. Pesa ainda a necessidade de troca dos barcos de madeira por barcos de aço, no segmento de cargas e passageiros.
“Existem estaleiros ampliando a área produtiva, investindo em máquinas e equipamentos com tecnologia de ponta. Eles desenvolvem novos processos industriais específicos para embarcações que utilizamos por aqui”, informa o presidente do Sindicato da Construção Naval (Sindnaval), Irani Bertolini.
Parceria com o Senai
A importação de mão de obra, para Bertolini, deve ser temporária. Ele informa que as empresas trabalham em conjunto com as instituições locais, como Serviço Nacional da Indústria (Senai), para formar novas turmas de trabalhadores especializados.
Em parceria com os estaleiros, o Senai capacita tanto aprendizes em cursos mais longos quanto em treinamento nas empresas voltado para o dia a dia dos soldadores e montadores navais.
“Essa parceria apresentará resultados no médio prazo e o objetivo é eliminar a contração dessa mão de obra nos estados vizinhos e priorizar a admissão da mão de obra no Amazonas”, acrescenta Bertolini.
Ao Sindnaval estão associados 24 estaleiros. Desses, 23 localizados em Manaus e um no município de Iranduba. Essas empresas empregam cinco mil operários e faturam, anualmente, ao menos R$ 1,5 bilhão.
Engenheiros Navais
Bertolini explica que o quadro de engenheiros navais é hoje preenchido por egressos do Curso de Engenharia Naval da Universidade do Amazonas (UEA). Essa faculdade tem mais de 10 anos de atuação.
Existem casos, entretanto, da troca de experiência profissional com outros estados, “que é saudável para todos”, como afirma Bertolini.
“Trazemos engenheiros com maior especialização de fora para desenvolver a indústria local, assim como saem engenheiros formados da UEA para trabalhar e ganhar experiência em outros estados”, reafirma o empresário.
Curso de Engenharia Naval da UEA
O coordenador do Curso de Engenharia Naval da UEA, professor doutor Eduardo R. Barreda del Campo, confirmou que a UEA já formou 91 engenheiros navais em seus 10 anos de existência.
Dos 80 localizados em atuação, 73% trabalham em empresas do Amazonas e 27% em outros estados. Desse total, cinco fazem Mestrado na Universidade de São Paulo (USP) e Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).
Cenário promissor
“A demanda por engenheiros na indústria naval do Amazonas é significativa. Ela se reflete no fato de que nossos estagiários estão prontamente empregados devido à alta demanda por construção de embarcações para transporte de grãos e óleo […] O cenário é promissor e a UEA consegue suprir essa demanda”, garante Eduardo del Campo.
Para o coordenador, a transição de embarcações de madeira para as de aço tem impulsionado o aumento tanto no número quanto no nível de formação acadêmica dos egressos da UEA.
Segundo ele, isso se deve à demanda por maior especialização em relação aos tipos de aço, técnicas de soldagem e processos de construção específicos para esse tipo de embarcações.
“Essa mudança reflete a necessidade de profissionais mais qualificados e especializados para atender às exigências técnicas e de qualidade das embarcações de aço na indústria naval”, afirmou.
Conceitos técnicos
Mas, Eduardo del Campo esclarece que, independentemente do tipo de material [madeira ou aço], todo projeto de embarcação deve passar por um ciclo de desenho no qual são aplicados conceitos técnicos de Engenharia Naval. Isso incluem arquitetura naval, estabilidade, hidrodinâmica, estruturas, propulsão etc.
Além disso, os projetos precisam cumprir com especificações das normas, durante a construção e operação.
O Curso de Engenharia Naval da UEA especializa profissionais para trabalhar em projetos de embarcações e sistemas navais, construção, reparo e demolição de embarcações, pesquisas, transporte e logística, certificadoras e classificadoras, energia e diversos outros segmentos de mercado associados ao setor naval.
Trabalhadores
Para o presidente do Sindicato dos Trabalhadores Metalúrgicos do Amazonas, Valdemir Santana, faltou e continua faltando planejamento do governo estadual e das instituições promotoras do desenvolvimento econômico do Amazonas para preparar mão de obra especializada aos setores industriais emergentes.
Ele confirma que a indústria naval “importa” operários, inclusive engenheiros navais, e alerta que esse problema pode se agravar com as medidas de incentivo à retomada das atividades do setor, a serem anunciadas pelo governo Lula ainda neste mês.
Falta de diálogo
Isso pode ocorrer, segundo o sindicalista, porque as instituições governamentais não conversam com os trabalhadores. “Não ouvem os trabalhadores”, reafirma.
Em razão da falta de ação dos órgãos governamentais e das empresas, Santana afirmou que o próprio sindicato oferece, desde abril do ano passado, cursos de qualificação a trabalhadores para diversos segmentos industriais.
Ele alerta que a escassez de mão de obra na industrial naval, inclusive de engenheiros navais, pode até piorar, levando-se em consideração que a tendência do setor é de crescimento.
Santana lembra que ainda neste mês o governo Lula vai anunciar as medidas para a retomada da indústria da construção naval no País.
“O setor naval [do Amazonas] estava fora da política nacional. Estava ativo apenas no Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul, Espírito Santo e Bahia. Fomos lá e o trouxemos para cá”, garante o sindicalista.
Salário “nada ruim”
Vagas de trabalho
Em Manaus, os estaleiros têm vagas para soldadores com salário inicial de R$ 3.500, “que não é um salário ruim”, na concepção de Santana.
Mulher na indústria naval
Há uma ação do Sindnaval, com apoio do estaleiro Juruá, localizado em Iranduba, para formar mulheres soldadoras e ampliar a oferta de mão de obra dessa especialização.
“Quero felicitar o Sr. Irani [Bertolini, presidente do Sindival] pela iniciativa”, elogia Santana.
A medida, para ele, atende à política de igualdade de gêneros no mercado de trabalho que, no setor naval, também é dominado pelo sexo masculino.
Óleos e grãos
O presidente da Associação Brasileira de Navegação Interior (Abani), empresário armador Dodozinho Carvalho, confirma que o transporte de óleos e grãos nos rios amazônicos está em ascendência.
No caso dos grãos, o setor aqueceu em razão da produção e escoamento de petróleo e gás plataforma da Petrobras em Urucu, em Coari (AM). Soma-se a isso entrega desses produtos beneficiados em cidades e outras localidades de 60 municípios amazonenses.
Todo o gás de cozinha e demais derivados de petróleo, como óleo diesel, gasolina e etanol, que abastecem as termoelétricas e os postos de combustíveis dos municípios – sem acesso viário a Manaus – são transportados através dos rios, com uso de balsas tanques.
Os grãos, soja e milho principalmente, são transportados de Porto-Velho até o terminal de embarque de Itacoatiara (AM) através do rio Madeira, com uso de balsas graneleiras.
A maioria das cargas de grãos é proveniente da produção dos municípios de Rondônia e do noroeste de Mato Grosso, e viaja em carretas através da BR-364 até Porto Velho.
Atualmente, cinco empresa amazonenses atuam nesse segmento e todas têm suas embarcações fabricadas e fazem manutenção nos estaleiros de Manaus e Iranduba.
Cargas em geral
O transporte fluvial na Amazônia, como explica Carvalho, ocorre sobre balsas nas categorias cargas de convés, contêiners sobre balsa, carreta sobre balsas e cargas sob medida. O setor chama-as cargas de projetos.
Há ainda as embarcações que transportam cargas e passageiros e as só para passageiros, conhecidas como lanchas “a jato” – ou lanchas ligeiras.
Esses modais navegam nas rotas Manaus-Belém-Manaus, Manaus-Porto Velho-Manaus, Manaus-Iquitos (Peru)-Manaus, Manaus-Santarém-Manaus.
Os estaleiros, segundo o empresário, são beneficiados pela troca das embarcações de madeira pelas de aço, pela ampliação e manutenção da frota de aço.
Fonte: https://bncamazonas.com.br/municipios/aquecida-industria-naval-do-am-importa-mao-de-obra/
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